A imagem que o mercado tem da Stella Kochen Susskind é de uma mulher forte , empreendedora e muito bem humorada . O que poucos param para pensar é que por trás da profissional existe a pessoa . E a Stella Kochen Susskind, que aparece sempre sorrindo nas fotos, conquistando prêmios e clientes, vivia sob uma bomba relógio. Cada um tem a sua, com intensidades distintas.

A minha talvez seja uma das missões mais árduas , mas talvez a mais bonita que uma pessoa tenha que enfrentar:

Eu cuidei do meu pai , que padecia de uma doença terminal por quase 3 anos.

Para quem acompanha minha carreira sabe da grande influência que meu pai, Rubens Kochen, grande empreendedor , teve em minha carreira. Meu pai sempre me incentivou a querer mais , conhecer mais, fazer cursos, escrever livros e mais ainda, meu pai me ensinou a ser generosa . Meu pai sempre foi meu melhor amigo, meu conselheiro.

Portanto, quando ele foi diagnosticado com falência renal total , com necessidade de sessões de hemodiálise de 5 horas / dia, 3 dias por semana , não tive a menor dúvida sobre o que fazer : eu encararia essa luta com ele. Foram 3 anos de hospital, telefone ligado 24 horas, cuidando da vida dele ( meu pai era viúvo ha 30 anos) , espiando o celular com o canto dos olhos durante reuniões e palestras checando se havia alguma emergência . A hemodiálise tornou-se meu segundo escritório e os grandes profissionais que se dedicaram ao meu pai, tornaram-se nossa família .

No dia 01 de fevereiro deste ano, um dia após comemorar seu aniversário de 83 anos conosco, meu pai teve uma parada cardíaca durante a hemodialise .

Eu digo que ele não morreu , ele evaporou. Me deu um beijo de despedida antes da dialise e partiu.

Como ser profissional e lidar com o luto?

Na minha religião, a judaica, o luto é bastante prolongado mas extremamente sábio. Temos que ficar uma semana em casa, com espelhos e TVs cobertas, só saindo para ir a sinagoga rezar. Essa é a primeira parte do luto, que na verdade estende-se por um ano .

Saindo da semana devastadora do luto, peguei um avião e fui dar uma palestra para 4.500 pessoas no Rio Centro . A palestra foi um sucesso e eu absolutamente destruída .

Voltar ao trabalho tão rápido foi talvez o maior erro que eu tenha cometido. As pessoas não entendem a sua dor, a sua devastação e não tem a menor obrigação de fazê-lo, mas infelizmente o ser humano é cruel.

Fui criticada por ter me dedicado tanto ao meu pai, ouvi absurdos . Mas eu sempre soube que estava certa . Os últimos 3 anos com meu pai , não só eu, meus irmãos , filhos, marido, sobrinhos também , foram doloridos mais lindos .

Mas eu simplesmente não estava conseguindo lidar com a minha dor no meio corporativo

E-mails se misturavam a minha dor, reuniões se mesclavam com o vazio das ocupações do cotidiano do meu pai, o meio corporativo só me mostrava a superficialidade e a falta de altruísmo dos seres humanos .

Conversei com meu sócio e comuniquei as minhas equipes : #fui

#fui

Fui parar no Hospital Infantil Darcy Vargas em São Paulo, referência no tratamento oncológico infantil , hospital público onde conheci outra realidade .

Conversei com a Diretora de RH, Cátia Cristina ( ela vale um outro artigo) e passei um mês como “estagiavelha”do RH onde : arrumei o arquivo morto, avaliei o desempenho dos funcionários , furei muito papel , passei com cachorros pela oncologia , consegui a doação de 300 lenços de cabeça para as crianças que se submetem a quimioterapia, participei do clip institucional. Lavei muita garrafa térmica , chorei muito com as histórias mas mais que tudo, conheci pessoas maravilhosas e histórias de vida inesquecíveis .

O mais maluco de tudo é que eu me curei da minha dor ajudando a amenizar a dor dos outros . No Hospital Infantil Darcy Vargas eu recuperei meu sorriso. No trabalho voluntário, minha bomba relógio recém explodida tornou-se uma dor secundária .

Tirei um sabático. E ai ?

E aí que se eu não tivesse tirado esse sabático eu não teria tido forças para continuar . A gente tem que reconhecer quando a nossa bomba relógio dá sinais . Todo mundo sobreviveu ao meu sabático e mais : me tornei uma pessoa melhor e uma profissional melhor .

Muito obrigada a todas as minhas parceiras do RH do Hospital Infantil Darcy Vargas , ao Dr Sérgio Sarrubbo e a todas as crianças e mães que me ensinaram tanto.

E eu dedico este artigo ao meu querido pai , que mesmo em outro plano , me deu essa oportunidade linda de ser uma pessoa melhor. Papis, this one’s for you wherever you are.